Após retornar à escola, no mês passado, Luiza, que é professora de inglês em João Pessoa (PB), contraiu o novo coronavírus. "Peguei covid-19 na segunda semana de aulas (presenciais)", relatou na mensagem. A situação trouxe revolta para ela, que diz ter tomado muito cuidado para evitar a infecção pelo coronavírus desde o início da pandemia. Para Luiza, não há dúvidas de que foi infectada no trabalho. "Outros cinco professores da escola também pegaram o vírus no mesmo período."
A situação de angústia relatada por Luiza diante das aulas presenciais no atual período tem sido um sentimento comum entre trabalhadores da educação de todo o país nas últimas semanas. Enquanto o Brasil enfrenta a sua pior fase de covid-19 desde o início da pandemia, com sucessivos recordes de mortes, diversas escolas públicas e particulares retomaram o ensino nas unidades físicas.
Desde o início do ano letivo, há diversos relatos de infecções pelo novo coronavírus e até mortes registradas após o retorno das atividades presenciais nas unidades de ensino.
O ensino presencial virou alvo de debates constantes. Muitos profissionais da educação relatam o temor da covid-19 e, por isso, defendem que o ensino remoto seja adotado integralmente no atual período. Porém, há segmentos que defendem que é possível retomar a educação presencial com segurança e argumentam que a volta às salas de aula é fundamental para que os estudantes possam ter um melhor desempenho.
A divergência sobre o retorno ao ensino presencial é ilustrada pelos posicionamentos de duas entidades nacionais. Na semana passada, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) defendeu a suspensão das atividades presenciais nas escolas no atual período, para conter o avanço do novo coronavírus. Posteriormente, o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) afirmou, em nota, estar preocupado com a defesa da "suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país".
A reportagem questionou o Ministério da Saúde sobre o ensino presencial no atual momento. Porém, a pasta não se pronunciou sobre o tema.
O retorno ao ensino presencial
Desde o início deste ano, muitas escolas das redes estaduais, municipais e privadas de todo o país adotaram o ensino de forma híbrida, que combina o presencial com o remoto. Assim, as turmas são divididas em pequenos grupos para que não haja a mesma quantidade de alunos em sala como era comum antes da pandemia. A cada semana uma parte dos alunos acompanha as disciplinas presencialmente, enquanto os outros assistem ao conteúdo online.
Para retomar o ensino presencial, as orientações de especialistas são a adoção de medidas como o uso de máscaras, o distanciamento social de, ao menos, 1,5 metro, medição de temperatura e a utilização de álcool em gel. Além disso, cientistas recomendam que o ar-condicionado seja desligado para que as janelas sejam abertas, para facilitar a circulação do ar e evitar a propagação do coronavírus.
Mas as recomendações nem sempre têm sido seguidas nas unidades de ensino que retomaram as aulas presenciais. Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), em todo o país há diversos relatos sobre escolas em que não há álcool em gel ou máscaras suficientes para professores e outros trabalhadores da unidade de ensino.